São 23h de sábado, mãe e filha
estão cansadas porque foi um dia de trabalho árduo para ambas. A única
diferença é termos a mãe a olhar para a sua filha lavada em lágrimas e não saber
o que fazer. Não saber, realmente o que fazer e ter dificuldade em escolher as
palavras a usar.
Como qualquer mãe tenta primeiro
fazer com que ela coma alguma coisa e sente-se frustrada ao perceber que a
filha não tocará numa única garfada do jantar que ela tinha preparado.
As lágrimas continuavam a
escorrer de forma abundante e a mãe teve que perguntar:
“ – Isto não é de agora pois não?
Há quanto tempo andas assim?”
A filha contou-lhe, entre
soluços, a maioria das coisas que lhe ensombravam a alma: o que a magoava, o
que a deixava triste, o que a deixava frágil, revoltada e culpada.
Algumas coisas eram expectáveis,
outras não o eram de todo… Algumas coisas conseguiu perceber, outras conseguira
talvez aceitar… Na generalidade sabia que nada do que pudesse fazer ou dizer
aliviaria o sofrimento da filha.
Só lhe restava a sua última arma,
o colinho de mãe, levou a filha para o seu quarto e fez-lhe festas no cabelo
enquanto lhe dizia que ia ficar tudo bem…
De manhã quando a filha acordou
foi até à cozinha e reparou que a mãe lhe tinha comprado um saquinho de
nêsperas (fruta que a filha adorava mas a mãe detestava e dizia ser um
desperdício gastar dinheiro naquilo porque só tinha casca e caroços), era a
maneira que a mãe tinha de dizer à filha: “ – Enquanto não fica tudo bem, eu
estou aqui para cuidar de ti, para dar miminhos em s.o.s e beijos no sítio
certo”.
Sem comentários:
Enviar um comentário