Ali está ela
descontraída, distraída a indagar-se se leva mamão ou papaia para a salada de fruta
na confusão habitual do hipermercado que costuma frequentar. Sente um vulto a
seu lado e desvia o olhar nessa direcção. Mas o gesto reflexo que deveria ter
demorado milésimos de segundos ficou suspenso no tempo porque ali está ele,
estupefacto, a olhar para ela.
O barulho cessa, a
movimentação à sua volta extingue-se, durante segundos(?), minutos(?) só
existem eles os dois numa dimensão paralela.
Ela de vestido preto e
ele de camisa branca, metáforas mefistofélicas do passado, estão lado-a-lado,
tão perto, que se quisessem, podiam tocar-se.
Pela primeira vez em
quase dez anos ela não lhe facilita a vida e não finge não o ver e ele não
incorre numa fuga ávida e desajeitada.
Não, ainda estão a perscrutar
o rosto um do outro. Ele está mais bonito do que ela se lembrava. Aqueles olhos
sempre foram tão verdes, tão grandes, tão brilhantes? Não há dúvida nenhuma que este homem é encantador a todos os níveis. Ainda mais, se possível, do que se lembrava.
Uma criança chama incessantemente
pelo pai, o momento passa, voltam as vozes, as pessoas e o presente.
Eles?
Eles seguem os seus
caminhos sem trocar uma palavra. Não precisam. Ele de mão dada com a filha e
ela de coração tranquilo com a vernácula sensação que fez as opções correctas.
Desculpem, não vos
contei o que pensou ele? Não é porém evidente?
Ela foi o grande amor
da vida dele.
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