quarta-feira, 3 de abril de 2019

Primavera Árabe Tardia na Argélia

São os jovens com menos de 30 anos (que representam 2/3 da população) quem lidera as manifestações, a luta por melhores condições de vida e o combate à corrupção.
Contudo, não se vêm espelhados em nenhum dos partidos políticos que assumem o controlo do país, são eles o FLN (Frente de Libertação Nacional) e o RND (União Nacional Democrática) marcados pelo despotismo e descomprometimento social.

Nenhum dos protagonistas que emergiram da rua, quer sejam defensores de Direitos Humanos ou outros membros importantes da sociedade civil argelina querem ser o rosto deste movimento.
Porquê?

Porque há uma realidade complexa e ambígua neste país.
Os fios que movem as marionetas politicas são orientados pela Sonatrach (petróleo e sobretudo gás) e pelos militares, que não governam mas escolhem o presidente e ainda não apoiaram publicamente a candidatura de ninguém.

Com o aumento dos protestos nas ruas, uma saúde debilitada (após o AVC sofrido em 2003) e sem o apoio do Chefe-Maior do Exército, Bouteflika viu-se sem meios para enfrentar a crise que assola a Argélia e os argelinos. Assim sendo, renunciou hoje ao mandato depois de já ter assumido que não se ia recandidatar nas próximas eleições nos finais de Abril.

É motivo para festejar?
Não será fácil encontrar um sucessor credível que agrade ao povo, ao exército e à indústria...
Alguém que assuma um compromisso de transição entre o Sistema, o Regime e uma nova Argélia.
Se nem o Exército quer avançar um nome... Longos dias se avizinham.

Isto deixa a Argélia e a Europa (é o maior abastecedor de gás de Portugal, de nuestros hermanos e dos avècs) numa crise difícil de resolver e abre portas à senhora dona Rússia para explorar o mercado e fazer-nos reféns da sua matéria-prima.

Se fossem revoluções outono-inverno estávamos tramados e geladinhos até aos ossos.
Perdoa-me Alá que eu não sei o que digo. Às vezes sei, mas não digo ;)



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