segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Eleições na Ordem dos Farmacêuticos – Triénio 2012/2015

Há 3 anos quando participei no primeiro acto eleitoral sentia-me realmente esperançosa num futuro mais risonho para a profissão. Passado o tempo das dúvidas, falta de esclarecimentos e até constrangimento conseguia vislumbrar sinais de mudança.

Estava equivocada… É certo que muito não poderá ser feito num tão curto espaço de tempo, mas a proactividade foi muito pouca e instalou-se um certo clima de pedantismo e elitismo que me desagrada bastante…

Basta olhar para os cadernos eleitorais recheados maioritariamente de proprietários e/ou académicos que não ambicionam mais do que se ambicionava há uma década, que não lutam por nada que dignifique a profissão, os seus profissionais e os utentes que defendem…

Desde que me formei compareço religiosamente a todas as assembleias e, há caras que, nestes quase cinco anos, nunca por lá vi. Nem nos chamados tempos de reboliço, nem nos de calmaria… Ter-se-ão começado a preocupar acerrimamente só agora?

É claro que reconheço o mérito a muito boa gente (mais boa, do que muito) …
Sabem que mais? Arre estou farta de semideuses! Onde é que há gente neste mundo?
 
 
 

POEMA EM LINHA RECTA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenha calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenha agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe. Todos eles príncipes na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que, contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ò príncipes, meus irmãos,
Arre estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos, mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

2 comentários:

  1. Daqui a três anos posso ser teu vice-presidente! Isto se ainda existir profissão e respectiva Ordem!

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  2. Estás contratado! Nem o meu Sporting me dá alegrias... Estou deprimida... =(

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